domingo, julho 23, 2006

Outro ângulo de análise


Desde há bastante tempo que olho para os dados do COT (Commitments of Traders), mas agora dei-me ao trabalho de fazer uma investigação mais aprofundada. Se nos habituarmos a analisar com a devida atenção a evolução dos números semanais das posições short e longa do Ouro, ficaremos a ver o mercado com outra segurança. É que a evolução das cotações do Ouro tem estado sempre em estreita ligação com as alterações das posições dos profissionais do sector (os “Commercials”).

Estes profissionais do Ouro (a que chamarei Comerciais), ou seja, os que normalmente abrem posições ligadas ao seu negócio de produção (empresas mineiras, por exemplo) ou de compra e utilização do Ouro (as fábricas de transformação e utilização do metal). Normalmente, os Comerciais detêm bem mais de 50% do Open Interest total, mas a sua verdadeira importância advém de comandarem indiscutivelmente o mercado e serem as entidades que mais sabem sobre o activo. Em relação aos outros intervenientes, as posições dos grandes investidores/especuladores (na maioria dos casos, grandes fundos) são sempre enganadoras, pois, por norma, estão excessivamente longos nos picos e escassamente longos nos bottoms. Os pequenos investidores/especuladores têm também uma posição que tenta ser seguidora, mas que é errática e demasiado atrasada.

No entanto, a evolução da posição conjunta de todos os intervenientes, dada pelo Open Interest, é muito importante.

É ainda fundamental referir que é normal que os Comerciais tenham uma posição líquida vendedora, pois a influência dos produtores é enorme. De uma maneira simplificada, poderemos dizer que quem possuir um activo – neste caso, o Ouro – pode ter uma política de vender para proteger uma posição longa que é, nem mais nem menos, a detenção do bem que produziu. Ou então vende para fixar o seu preço de venda desse bem. É exactamente para essa função que começaram a existir os mercados de futuros e opções.

Actualmente, o que é que eu concluo dos números do COT para o Ouro? Como o metal tem estado a corrigir (embora pelo meio tenha realizado um bom rally), aconteceu o que é normal nestas ocasiões: uma diminuição progressiva do número de posições short, com uma pequeno aumento que rapidamente se extinguiu (termo do rally) e a manutenção, com pequenos desvios, do número de posições longas por parte dos Comerciais. Quando chegarmos próximo de um bottom, antes de nova possível arrancada, costuma assistir-se rapidamente a um aumento das compras dos Comerciais e só quando as subidas recomeçam a valer é que se inicia o aumento crescente das posições curtas.

Ora o mercado do Ouro parece estar numa fase de espera pois, a posição dos Comerciais
e do Open Interest está a manter-se em níveis baixos. Nos últimos meses, até ao pico dos 730, aconteceu uma coisa relativamente rara: os comerciais aumentaram a posição longa durante uma uptrend quase vertical. Ora isto foi extemamente bullish mas estranhei vê-los aumentar aquela posição até ao topo (foi o que fizeram, dentro do que é normal, nos curtos - aumentaram sempre até ao cimo).

Fico com a ideia que o topo de Maio foi um exagero que não estava completamente nas previsões dos Comerciais (pela sua rapidez e intensidade) e que nem foi devidamente aproveitado por eles. Parece haver aqui um sinal de que eles estão à espera que a cotação do Ouro caia ainda mais, para então comprarem a sério…

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